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  • Foto do escritorIsabella Fernandes

A maior faculdade que nossa mente possui é, talvez, a capacidade de lidar com a dor.

“A maior faculdade que nossa mente possui é, talvez, a capacidade de lidar com a dor. O pensamento clássico nos ensina sobre as quatro portas da mente, e cada um cruza de acordo com sua necessidade.

Primeiro, existe a porta do sono. O sono nos oferece uma retirada do mundo e de todo o sofrimento que há nele. Marca a passagem do tempo, dando-nos um distanciamento das coisas que nos magoaram. Quando uma pessoa é ferida, é comum ficar inconsciente. Do mesmo modo, quem ouve uma notícia dramática comumente tem uma vertigem ou desfalece. É a maneira da mente se proteger da dor, cruzando a primeira porta.

Segundo, existe a porta do esquecimento. Algumas feridas são profundas demais para cicatrizar, ou profundas demais para cicatrizar depressa. Além disso, muitas lembranças são simplesmente dolorosas e não há cura alguma a realizar. O provérbio ‘O tempo cura todas as feridas’ é falso. O tempo cura a maioria das feridas. As demais ficam escondidas atrás dessa porta.

Terceiro, existe a porta da loucura. Há momentos em que a mente recebe um golpe tão violento que se esconde atrás da insanidade. Ainda que isso não pareça benéfico, é. Há ocasiões em que a realidade não é nada além do penar, e, para fugir desse penar, a mente precisa deixá-la para trás.

Por último, existe a porta da morte. O último recurso. Nada pode ferir-nos depois de morrermos, ou assim nos disseram.”

- “O Nome do Vento”, Patrick Rothfuss.

Eu diariamente passo por essas três portas, por vezes batendo na porta quatro... Mas a morte nunca está pra me receber. Tem muita coisa que não dizem sobre a dor, quando há um ano e meio atrás eu comecei a sentir dor intensa todos os dias (coisa que eu não imaginava ser minha nova rotina) eu busquei entender a dor, mas do que já sabia em 16 anos de hospital, mas nada explica, as pessoas não falam sobre dor, parece que é um assunto proibido, como se fosse contagioso, mas não é. A dor tem uma incrível capacidade de transformar sua vida. Primeiro ela rouba tua independência e sua liberdade, você começa a depender de remédios pra levantar da cama e de pessoas para as mais simples tarefas, como tomar banho ou mesmo comer. Depois ela leva teu convivo social, bem está claro que você não consegue sair pelo primeiro item, mas é mais que isso, NINGUÉM QUER ESTAR COM ALGUÉM DOENTE, as vezes nem você mesmo. Então você perde suas amizades, ganhando como brinde a solidão. Mas isso não basta, no meu caso a dor me toma a luz, em vários sentidos, não posso ver, sentir, nem ser luz, porque machuca. O mesmo acontece com toques, por mais simples que seja como um aperto de mão. Mas acho que o pior é que a música se torna uma forma de tortura, na verdade qualquer som, até o som dos meus batimentos ou da minha respiração. Cheiros não escapam dessa lista, e tornam até mesmo minha comida favorita intragável. Então você sendo um vegetal dependendo sozinho, a dor vem e te rouba a sanidade, vem assim na surdina como quem não quer nada e te enlouquece. Lógico que a dor é bem mais que isso, a dor é um sentimento, uma sensação que não pode ser mensurada em palavras. A dor vem de repente, te deixa sem escolha e você se sente num mar tempestuoso tendo que nadar contra a corrente.

P.s.: passei o dia no hospital, acho que não tenho mais nada pra por pra fora além de palavras.




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